Como BH, que completa 128 anos, foi berço da formação de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas do país

  • 12/12/2025
(Foto: Reprodução)
Belo Horizonte, o berço do intelectual e do sujeito Drummond Quando se fala o nome de Carlos Drummond de Andrade, logo vem à lembrança um dos maiores escritores da literatura modernista brasileira. E Belo Horizonte, cidade que completa 128 anos nesta sexta-feira (12), foi o berço da formação intelectual dele. No dia da comemoração do aniversário da capital mineira, o g1 conta uma série de aspectos curiosos que envolvem o poeta e a cidade: do ensino médio no Colégio Arnaldo ao curso de farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), passando pelas rodas de intelectuais e aventuras urbanas - incluindo até escalada dos arcos do Viaduto de Santa Tereza (veja infográfico ao fim da reportagem). Esta reportagem aborda a relação de Carlos Drummond com BH a partir dos pontos abaixo: O primeiro contato com BH Drummond não concluiu ensino médio e foi expulso A mudança da família para BH e o curso de farmácia A relação com Belo Horizonte Os arcos do viaduto de Santa Tereza O primeiro contato com BH Segundo o professor de Teoria Literária da UFMG Roberto Said, um estudioso de Drummond, a primeira passagem do poeta por BH foi quando ele veio estudar, em 1916, no Colégio Arnaldo. Foi no colégio que Drummond fez grandes amizades, como Gustavo Capanema, que, futuramente, se tornou o ministro da Educação que permaneceu por mais tempo no cargo na história do Brasil, de 1934 a 1945, no governo de Getúlio Vargas. "Era um colégio onde estudavam os filhos de pessoas da oligarquia mineira, de diferentes partes do estado. Muitos desses amigos de Drummond se tornaram pessoas e políticos influentes e acabaram empregando-o no serviço público", explicou o professor Roberto Said. Drummond, no entanto, precisou deixar a escola e retornar para Itabira porque pegou uma doença venérea. Para que ele pudesse ser tratado, a família o levou de volta, interrompendo seus estudos. Drummond não concluiu ensino médio e foi expulso Ainda segundo o professor Said, o poeta não concluiu o ensino médio. Após ele se recuperar da doença venérea, o pai o matriculou em um colégio interno em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. O ano era 1919. Ele se destacou entre os estudantes e escrevia para o jornal da escola. No entanto, ao ver seus textos corrigidos pelo professor de língua portuguesa, Drummond não concordava com as alterações. Os dois tiveram uma briga e ele acabou sendo expulso. Mudança da família para BH e faculdade de farmácia Um ano depois da escola de Nova Friburgo, em 1920, o pai de Drummond decide se mudar para a capital mineira com toda a família. Eles se alojaram em um hotel, no centro da cidade, enquanto a casa em Santa Tereza não ficava pronta. Cobrado a ter um diploma de ensino superior, Drummond, mesmo sem ter terminado o ensino médio, se matricula em 1923 no curso de Farmácia da UFMG. Na época, não se exigia a conclusão do segundo grau. Na UFMG, hoje há um Centro de Memória na Faculdade de Farmácia, coordenado por professores do curso, onde Drummond é destaque (veja galeria de fotos mais abaixo). O professor Gerson Pianetti esteve com Drummond, no Rio de Janeiro, para convidá-lo para uma homenagem. E durante a conversa, ele revelou o motivo de ter feito farmácia apesar de nunca ter exercido a profissão. "Eu ouvi dele que ele tinha ido para a área da farmácia porque os lugares onde se vendiam os medicamentos eram um ponto de encontro das pessoas. E ele gostava de gente, de pontos de encontro. Então, foi a única coisa que atraiu Drummond. Ele fez o curso e não exerceu a profissão como devia, mas ficou um poeta farmacêutico, um crítico da profissão também. A gente vê, nas falas dele e nos escritos, o cuidado que ele tinha em mostrar sobre o uso excessivo de medicamentos", disse o professor Pianetti. O curso durava três anos, e as notas do poeta genial não eram muito altas. O g1 teve acesso a uma prova de química analítica (veja a foto abaixo), realizada por Drummond, em que ele tirou nota sete. A maneira como ele dissertava nas questões mostrava uma escrita diferenciada. Ele fazia das teorias científicas enredos um tanto poetizados para uma ciência objetiva. "Matéria é palavra que serve para definir a substância de que são feitos todos os corpos. Houve quem definisse: matéria - tudo o que affecta os nossos sentidos. Não é exato: a sombra affecta o órgão visual, e não é matéria, mas simples ausência de luz", escreveu Drummond. "É interessante que as provas mostram que ele já era um aluno diferente dos demais. A forma como ele interpretava as questões, que eram questões dissertativas, já mostra um estudante diferente, que via a ciência de uma forma diferente, de uma forma literária. Então, para a gente, é muito importante preservar essa história e ter um aluno tão brilhante quanto foi Drummond", explicou a professora do Departamento de Farmácia Social da UFMG, Micheline Rosa Silveira. Drummond vestido para a formatura em Farmácia. Ao lado, a prova de química em que ele descreve o que é matéria de forma poética. Centro de Memória do Curso de Farmácia - UFMG Galeria de fotos de Carlos Drummond de Andrade A relação com Belo Horizonte A Belo Horizonte dos anos 20 era uma cidade que tinha se projetado, havia alguns anos, como a nova capital do estado. Apesar de provinciana, tinha vários elementos modernos e com ares europeus. Os primeiros escritos de Carlos Drummond carregam bastante o contexto da época, uma década marcada por transformações, inquietações e tensões culturais. A vivência do jovem Drummond em BH, as caminhadas pela cidade, a circulação por suas ruas e praças, a boemia, foram fundamentais para ele e influenciaram muito suas três primeiras obras: Alguma poesia (1930), Brejo das Almas (1934) e Sentimento do Mundo (1940). As características da cidade e as experiências vividas por ele compõem as cenas descritas nas obras. "Belo Horizonte foi essencial para Drummond se conectar com diferentes vertentes das artes e literatura. Foi aqui que ele conhece Mário de Andrade, Tarcila do Amaral e Álvaro Moreira, um escritor muito influente da época. E essas relações também têm dimensão política", explicou Said. Os arcos do viaduto de Santa Tereza Será verdade que Carlos Drummond teve coragem de subir nos arcos do Viaduto de Santa Tereza, via conhecida na cidade, que une o Centro de BH ao bairro Santa Tereza e tem vista para a Serra do Curral? O professor Said diz que o episódio, narrado por alguns moradores da cidade, de fato, aconteceu. O infográfico abaixo dá uma noção do perigo que esta atitude apresenta. Drummond, durante o dia, frequentava muito cafés e bibliotecas, onde se encontrava com a elite cultural de Belo Horizonte. À noite, ia à zona boêmia da capital. Ao voltar para casa, o viaduto era parte do caminho. O espírito rebelde, irreverente, não se limitou às páginas dos livros. O que se diz em Belo Horizonte é que ele já chegou a subir na estrutura e ainda foi advertido pela polícia. A atitude arriscada de Drummond se tornou um símbolo para outras gerações de escritores mineiros (confira o infográfico abaixo). Ainda que não seja uma medida proibida pela Prefeitura, pode provocar graves danos, em caso de queda, para os corajosos que decidem escalar o monumento. "Drummond influenciou diversos intelectuais mineiros e belo-horizontinos que vieram após ele, como Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos. E o ato de subir nos arcos de Santa Tereza se tornou quase um ritual que consagrava quem de fato era escritor", explicou Said. Viaduto Santa Tereza. Leonides de Carvalho Filho/Arquivo Pessoal Carlos Drummond, ao subir nos arcos do viaduto, chegou a uma altura de quase 15 metros. Arte: Sarah Follador / g1

FONTE: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2025/12/12/como-bh-que-completa-128-anos-foi-berco-da-formacao-de-carlos-drummond-de-andrade-um-dos-maiores-poetas-do-pais.ghtml


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